quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A bandalheira política – o apodrecimento do parlamento – a memória curta e a palhaçada das instituições de poder

 

A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns.”

                                                                                                        Compadre António Lobo Antunes 

- Boas tardes Compadre Zé, então o que me diz destas palavras do Compadre Lobo?

- Palavras lúcidas, compadre. Foram estes medíocres que apodreceram a democracia a ponto de tornarem o governo de Salazar numa gestão mais séria e ética.

- Parece impossível compadre que vossemecê faça uma afirmação dessas?!

- Compadre já alguém pensou em investigar os enriquecimentos dos políticos desde o 25 de Abril? Já alguém fez um estudo sério sobre a monarquia existente dentro dos partidos, nomeadamente daqueles que pertenceram ao rol da governação? O poder passa de pais para filhos, netos, amigos, enteados, esposas e amantes, oportunistas das escolas do partido, da minoria daqueles que se inscreveram no partido… Já imaginou o que partilham socialistas e sociais democratas? Quem está no governo negoceia com o outro os favores de uma caixa geral de depósitos, o cargo numa instituição pública, a gestão de empresas… O perpetuar da corrupção!

- Compadre, mas a justiça está atenta!

- Não me faça rir compadre! Em Portugal a justiça tem os olhos bem abertos. Há uma justiça para pobres e outra para ricos. Faz-se justiça para os casos mais evidentes e isto porque temos uma excelente polícia Judiciária. A democracia está refém da ditadura dos escritórios de advogados. Fazem as leis, são parlamentares, misturam os interesses dos escritórios com o poder instituído! São uma espécie de mafia. E quando se trata de defender os casos que esporadicamente surgem sobre a corrupção dos políticos, muito raramente há condenações e se as há são brandas e douradas, com muitas visitas dos camaradas de partido. E claro, os processos arrastam-se com o tempo para não darem em nada. Para os outros restam os defensores oficiosos, na maioria, ordenados em universidades privadas.  Depois existe o anedótico “segredo de justiça”, que de segredo não tem nada!

- Reconheço compadre que Portugal não é um Estado de direito, mas um estado de escritórios de advogados… Uma ordem de privilégios intocáveis que põem e dispõem dos recursos financeiros, económicos, jurídicos e políticos.

- Mas voltemos atrás compadre. Ainda se lembra dos políticos que venderam Portugal à Rússia e aos Estados Unidos? Daqueles que desbarataram os biliões que vieram da CEE em betão e alcatrão, passando de ministros diretamente para as gestões das grandes empresas de construção?  Do dinheiro esbanjado nas pescas, em novas embarcações para no mês seguinte pagarem para as pararem? No arranque criminoso (e muito bem pago) de oliveiras e vinhas centenárias? Das jogadas do chamado capitalismo popular? Da primeira corrupção ligada aos bancos? E aqueles ministros que saíram do governo e fundaram bancos?  Do negócio das armas e submarinos (lembram-se da tomada de posição sobre estes da justiça Alemã)? Dos rebanhos de ovelhas que circulavam pelas herdades? Da política criminosa que trouxe a “troika” e de quem a geriu? Do atraso que esta trouxe ao ensino, à solidariedade social, à saúde? Do incitamento ao ódio aos professores, aos velhos e aos jovens? Nunca a juventude foi tão maltratada! Num ato terrorista foi-lhes dito que emigrassem! Dos banqueiros poderosos que geriam os recursos do estado e controlavam as atitudes dos governos? Dos donos da comunicação social privada que têm estupidificado este país e manipulado aqueles que ainda votam? E que dizer daqueles atores que tiveram altos cargos na governação e que, hoje, aparecem a opinar sem qualquer ética e moral? E que dizer das aberrações que temos hoje no parlamento? Uns fazem lembrar a metáfora de um sem abrigo com um cão – levaram o cão para aconchego e abandonaram o dono à sua sorte. Outros descontentes com o partido original fundaram um novo partido, depois de serem comentadores de futebol e com a ajuda do maior pasquim da comunicação social (porque o tacho já não chegava para todos). Ainda filhos do mesmo partido, outros regressaram ao século dezanove e armam-se em liberais atrasados no tempo. A extrema esquerda continua igual a si mesma. Meninos ricos a promoverem o terrorismo social e o racismo. Os comunistas estalinistas extintos em todas as democracias ocidentais estão a engrossar o novo partido inconstitucional…

- Porra, compadre, e a crise continua!

- E vai continuar, numa gritaria histérica, com um presidente que não soube manter a dignidade institucional e a independência. Resultado? Hoje só vota que tem interesses partidários ou perdeu o espírito crítico.

segunda-feira, 6 de novembro de 2023

O linchamento da tolerância – ou como a comunicação social promove o racismo e o ódio…


    Estamos a assistir no mundo a movimentações de ódio que não têm comparação nem na história recente nem passada!

     “A propaganda para o público em geral funciona a partir do ponto de vista de uma ideia,  prepara-o para quando da vitória daquela opinião". (Adolf Hitler escreveu tais palavras em 1926, no seu livro livro Mein Kampf).  Hoje, fala-se muito em neonazismo! Novo? O nazismo nunca desapareceu, acentuou-se profundamente neste século refletindo na água da vida a imagem de Narciso  em forma de capitalismo, comunismo,  putativas democracias,  religião… Distópico, este mundo, permite o aparecimento de aberrações como Ruhollah Khomeini, Trump, Bolsonaro, Erdogan, Netanyahu, Putin… e tantos outros que, em nome de um deus absurdo e de erradas teologias,  promovem o terrorismo, fazem do ódio a grande sementeira da humanidade.  Hoje nasce-se já a odiar alguém!

    Como se não bastasse surge a comunicação social, escrita e televisiva, detida quase na totalidade por grandes interesses económicos e políticos, a promover o ódio, o racismo e a ignorância através da exploração das emoções, sem qualquer intervenção da razão! Dá jeito e promove as audiências e faz subir o preço da publicidade…

    Convém esclarecer que a ignorância nada tem a ver com a aliteracia ou com o analfabetismo! Costumam dizer que nunca as populações foram tão qualificadas?! Há mais licenciados, mestrados, doutores, catedráticos (alguns destes até defendem a teoria da terra plana)… falta ao ensino aquilo que entre os clássicos se chamava espírito crítico e dialética do conhecimento e a evolução da ética até à utopia…

    A emoção, ao contrário da razão, é algo necessário mas básico, pois motivam-nos para as ações de maneira extremamente rápida. Por isso, são usadas para influenciar o comportamento das pessoas quer politicamente quer publicitariamente. É importante lembrar que a comunicação social usa as emoções para submeter as populações de uma forma terrorista e antiética. Nunca foram usadas de forma responsável,  porque sabem que as massas não são hoje capazes de reconhecer quando estão a ser manipuladas emocionalmente.

    A guerra na Ucrânia parece que já acabou, ou então apenas aparece fugidiamente nas televisões! Começou uma nova guerra no Médio Oriente. Os abutres da comunicação social começaram a esvoaçar sobre Israel.  Chamaram os urubus – professores universitários, generais e outros formados em relações internacionais – que, numa diarreia mental, foram ajudando à propaganda de uma guerra que se iniciava! E quando mostravam imagens, hipocritamente repetiam: “As imagens podem ferir a sucessibilidades dos espectadores”! Puro terrorismo verbal – sabiam exatamente que o espectador não iria desligar a televisão- não era mais do que um reforço emocional para que as vissem! Afinal, as massas estão educadas para o medo e para o terror… começou o incitamento ao ódio aos Islamitas.

    Não demorou uma semana, por entre a divulgação da propaganda dos intervenientes da guerra, que começasse o incitamento ao ódio aos Judeus! Falo apenas da Europa, dita civilizada. Esqueceram-se que foram os judeus e os árabes, (procurem como coabitavam harmoniosamente em Toledo), que permitiram o avanço da ciência, da humanização e da renascença. Por todas as capitais, incitados por movimentos terroristas, muitos deles com assento parlamentar, começou o ódio aos Judeus. De tal forma que fizeram do antissemitismo da segunda guerra mundial uma brincadeira de crianças!

Hoje, a Europa está dividida! Ou se odeia os judeus ou os árabes com a ajuda da comunicação social.


domingo, 8 de outubro de 2023

Acerca da destruição do Islão pelos psicopatas

 Toledo, uma cidade para recordar

Não sou daqueles que pensam que se Maomé não tivesse existido o mundo seria melhor hoje! Acredito que provavelmente seria pior. O grande problema surge com a morte de mais um profeta (considero que o profetismo foi, e é , o grande gerador dos totalitarismos ao longo dos tempos – indutor do medo, da ignorância  e da criação de aberrações humanas).

 Com a morte de Maomé começou o descalabro que prossegue nos dias de hoje: as divisões começaram com a sua morte em grupos que perverteram o seu livro sagrado.  Não existe teologia sem estudo critico apurado e contínuo das escrituras. Hoje, o Corão é mais um manual de política e direito que um livro com fundamentos teológicos válidos. Existiu de facto um tempo e um local que foi um exemplo para o diálogo inter-religioso – Toledo. A presença do Islão em Toledo remonta ao séc. VIII. Durante um longo  período que se prolongou para além da Idade Média, a cidade tornou-se um centro intelectual, onde filósofos e estudiosos muçulmanos, judeus e cristãos trocavam conhecimentos e ideias. Três grandes pensadores surgiram: Avicena e Averrois (Islâmicos) e Maimonides ( Judeu). Estes enormes génios da civilização estudaram, divulgaram o pensamento Clássico. Beberam em Aristóteles o racionalismo necessário para tornarem a sua religião mais humana e esclarecida. Destruíram a eisegese (uma forma de abordar o textos a partir de preconceitos e  que destrói toda a imagem teológica dos livros sagrados e extrai deles o sentido que os dirigentes, sacerdotes, pastores (…) desejam de antemão)  e reforçaram a exegese (trazer para fora) a interpretação através do estudo crítico contínuo. Um dos maiores teólogos do cristianismo, Tomás de Aquino, bebeu nestes três génios a primeira grande evolução da teologia e filosofia cristã.  No entanto o mundo religioso das religiões de Abraão e o ocidente assassinaram a memória desses génios da Humanidade.

A presença dos árabes na europa enterrada na escuridão da Idade Média deixou como maior legado a Ciência que possibilitou o mundo actual. O Islão começou por ser uma religião humanitária, encarnou muito do que a sociedade tem de melhor. Ao longo dos tempos, e mais propriamente na actualidade, psicopatas políticos e religiosos estão a acabar com esse legado.

 E, já agora, Marisa Matias, alter ego dos aiatolas Khomeini e Hosseini Khamenei destruidores de uma das civilizações mais tolerantes do oriente, hoje Irão, deixe o parlamento europeu, não conspurque mais esta instituição já de si tão degradada. 

 Embora ateu , não posso deixar de desejar: שלום meus irmãos Judeus.

quarta-feira, 27 de setembro de 2023

Quando a pouco e pouco os políticos deste país vão apodrecendo a democracia…


- Então compadre , que me diz das eleições da Madeira?

- São o reflexo do apodrecimento político deste país. A assembleia da República, conforme o tempo passa, vai estando cada vez mais insciente. São o resultado da dinastia familiar ( há por aí partidos que mais parecem monárquicos) ! Os filhos e filhas substituem os pais e há sempre um tacho à espera dos íntimos), da ciência das universidades de verão e da clientela partidária. O nível da grande maioria do nosso parlamentares e governantes é tão rasca e risível que a nossa democracia mais parece um circo anárquico em autogestão.

- Compadre não está a ir longe demais?

- Longe demais, Compadre?! Voltemos então às eleições da Madeira que são o reflexo do que se tem passado no continente. O número de inscritos era de 253.865 votantes. Votaram no partido que se diz ganhador 58.399 votos. Os remanescentes ainda ficam aquém do número da abstenção! Será que aqueles que não votaram são os menos esclarecidos? Não acredito. Numa democracia plena e não manipulada pelos meios de informação social, ninguém dá o seu aval a quem não é competente. Ou como dizia o meu compadre Coelho, homem avisado e de muita cultura: - “Se ao menos o candidato fosse um cão com uma gravata…” Vêm aí as eleições para a europa, vai ver o descalabro. O apodrecimento das democracias europeias é progressivo.

- Tem que reconhecer que tem havido políticos muito bons neste país.

- Mas foram  "pouquichinhos". A memória é curta! O 25 de abril foi muito lindo, depois… Bem depois foram as lutas entre russos e americanos que quase nos levaram à guerra civil…. Mais tarde apareceram aqueles que ao sabor de interesses obscuros gastaram milhões em betão e alcatrão. Pagaram para arrancar oliveiras centenárias e vinhas de qualidade para semearem girassol e outras coisas que nem se colheram! Depois deram dinheiro para plantar outra vez oliveiras e vinhas ! Veja-se o que por aí vai. Os ministros, secretários de estado e afins foram para as grandes empresas privadas e levaram com eles a família…péssimos políticos que abandonaram a Pátria venderam-se a interesses bancários. Fiquemos por aqui porque o rol “ das centenas de ovelhas que se deslocavam de herdade em herdade, e se multiplicaram em muitos milhões”.... Enfim, governaram-nos numa espécie de autogestão anárquica, que privatizava, nacionalizava, e voltava a privatizar… O que era mentira ontem, continua hoje como aldrabice. Alguém já se lembrou de fazer uma investigação séria sobre as fortunas rápidas dos políticos que fizeram carreira na governação?

- Quer dizer compadre que vossemecê é um dos abstencionistas?

- Depende compadre! Com a água que estes roncadores, voadores, polvos e pegadores têm metido, se aparecer por aí um cão com uma gravata, eu vou votar.

Fazem-me lembrar aquela quadra do Compadre Aleixo:

Ó vós que do alto império
Prometeis um mundo novo
Vede lá que pode o povo
Querer um mundo novo a sério.


quarta-feira, 13 de setembro de 2023

Quando a escola deixou de permitir o salto social e se tornou racista, burocrática e permissiva

 

Onde cabem a construção dos saberes? (parte I)

Num destes dias de canícula, sentados à sombra da taverna do Formiga, enquanto arrotávamos umas minis, falávamos sobre a Escola pública.

-  Tantas asneiras se fizeram nestas últimas décadas que a escola pública “anda c’a lua cabrêra” compadre.

- Como assim compadre?!

- Tornou-se injusta, desigual, racista, burocrática e sem a capacidade de permitir aos mais desfavorecidos dar o salto social. O conhecimento deixou de ser importante, a violência, infelizmente, tem vindo a crescer. Parece que a escola e as famílias desistiram de ensinar! O professor que deveria ser a maior referência para a sociedade (entenda-se alunos e família) perdeu todo o seu valor histórico e  social, tornando-se numa espécie de “ama seca (com o devido respeito) de pedagogos políticos e experiências desastrosas.

- Compadre vossemecê tem que começar a explicar isso. Nunca tivemos tantas escolas, universidades, politécnicos…

- E nunca tivemos licenciados que são analfabetos funcionais nem alunos que acabam o secundário sem saber ler nem escrever!

- Então que escola pública temos hoje compadre?

- Nesta altura temos um ensino básico com um currículo totalmente desajustado, inteiramente virado para o interior da sala de aula, onde impera o absolutismo da felicidade! Ao aluno é-lhe negada a realidade da vida, porque tudo na vida é bom e feliz! A disciplina mental e física desapareceu, a noção de que aprender exige “inspiração e transpiração” foi banida. Encheram as escolas de psicólogos que nada sabem de pedagogia, e que venderam a ideia de que a escola é um recreio infantil, que aprender é um jogo, e que os alunos não devem ser contrariados. Paralelamente, para manter este ideal ”feliz” o ministério promoveu o uso intensivo de smartphones, tabletes, computadores, jogos... O papel tornou-se maldito, e foi responsabilizado pela destruição das florestas! Ler um livro é um ato raro, muito dependente dos pais que leem e incutiram esse hábito aos filhos, que têm bibliotecas em casa e sabem do valor da leitura para a construção de vida.  Nas escolas existem bibliotecas e muitos computadores. Os grandes frequentadores são os professores que não dão aulas ou cumprem horas do artigo 69! Se alguns alunos lá estão, espantam-se frente aos ecrãs, depois de serem enviados para lá porque os docentes não estavam para os aturar na sala de aula… evidentemente que existe um Plano Nacional de leitura, repleto de iminências pardas! Os resultados na promoção da leitura são cada vez piores! O projeto “dez minutos a ler” transformou-se numa pausa em sala de aula para alunos e docentes! Será que liam? Será que lhes foi incutido o prazer de ler? O amor aos livros, à poesia, ao mistério das palavras escritas, da imaginação, da construção da sabedoria e da arte literária?

Escreveu Michel Desmurget neurocientista) no seu livro A fábrica de Cretinos Digitais, (que recomendo vivamente a todos) : “ Ao contrário do que se pensava, a profusão de ecrãs a que os nossos filhos estão expostos está longe de lhes melhorar as aptidões. Na verdade, acarreta consequências pesadas ao nível da saúde (obesidade, desenvolvimento de doenças cardiovasculares e diminuição da esperança de vida), em termos de comportamento (agressividade, depressão, ansiedade) e no campo das capacidades intelectuais (linguagem, concentração e memorização). Tudo isto afeta gravemente o rendimento escolar dos jovens e o seu aproveitamento.” À margem de tudo isto, lembro que criminosamente o ministério da educação fez este ano a aferição de conhecimentos em formato Digital?!

 - Compadre, vossemecê já não acredita nos jovens?

- Acredito Compadre. Já não acredito na escola politicamente destruída pela classe politica nacional nem nos pais ( a maioria apenas reprodutores) que se aliviaram dos filhos! Mas isso é assunto para a próxima conversa sobre o tema da desmaterialização dos livros e abandono dos saberes.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

Proselitismo religioso, político e pedófilo


Coisas de deus e do diabo.


- Compadre Zé, hoje vamos falar das seitas políticas e religiosas que estão a invadir todo o mundo. Que me diz daquela seita que se instalou em Oliveira do hospital?

- É mais do mesmo compadre. Esses, nome de putativas filosofias baratas, vão-se aproveitando das liberdades religiosas e ideológicas para se fecharem dentro de quatro muros e viverem à margem da lei do país. Até querem fundar um reino! Um reino dentro de uma República!? Está tudo esfrangalhado. E eu até ouvi um político a afirmar que é um direito constitucional!

- Compadre a liberdade de religião é uma das normas constitucionais mais importantes da nossa democracia.

- Estamos de acordo compadre. Mas diga-me lá, se um grupo extremista religioso decidisse, criar um estado dentro do nosso estado isso seria constitucional?

-Compadre, vossemecê está a confundir as coisas.

- Estou compadre?! Que me diz das inúmeras seitas que fazem terrorismo social, político e económico? Que compram edifícios, herdades, políticos, televisões, jornais? Que vivem da ignorância dos simples e dos miseráveis? Que apoiam e provocam guerras? Que abençoam os lóbis das armas? Que não têm nem teologia nem essência? Que pervertem, modificam e acrescentam os cânones sagrados da memória escrita de muitos povos?

- Estou de acordo compadre. Regem-se apenas por interesses políticos e económicos. Mas a religião é importante para regular a sociedade…

- Mais uma vez estamos de acordo, Compadre! O problema é que ao longo dos séculos, quase sempre, serviu para demonstrar o pior que a humanidade possui. E isto tem-se vindo a gravar com estas seitas !

Quem tinha razão era o meu tio avô Ti Zé da Azenha. Antigamente, quando a água ainda corria nas ribeiras, existiam uns portos para atravessar a pé. Colocavam umas pedras grandes entre as duas margens para resolver a passagem aquando das cheias. Num desses dias a ribeira corria forte e alta! As pedras mal se viam. Ti Zé depois de saltar para a primeira pedra e perante a corrente que se fazia sentir, parou. Olhou para baixo, depois para cima, de forma autocéfala benzeu-se e orou: - Que deus me ajude - e, como era um homem avisado, quando ia saltar refletiu mais um pouco – e o diabo também. Saltou então. Sempre que caia na pedra seguinte repetia a fórmula: - Que deus me ajude, e o diabo também. Depois de saltar sete pedras, já perto da margem, escorregou e estardalhou-se na água gelada! Levantou-se serenamente, sacudiu o chapéu molhado, e com toda a sabedoria alentejana, vociferou:
- Tão cabrão é um como outro.

 

 

quinta-feira, 20 de julho de 2023

O estado da nação ou o assalto dos oportunistas ...

 



Civitatis gentis vel occasiones oppugnationis



- Viva Compadre Zé, santas tardes…

- Ou tardes inúteis. Liguei a telefonia e mais uma vez me senti enojado com aqueles que se dizem “os representantes” da democracia.

- Falemos, então, do estado atual da nação…

- Temos que voltar ao passado compadre, só assim entenderemos como políticos sucessivos, dos mais diversos partidos, apodreceram esta democracia.

- Vamos a isso compadre.

- Comecemos por falar daquela classe, intelectualmente risível, que a pouco a pouco foram transformando este país numa pocilga: os advogados e os economistas.

Os primeiros juntaram-se em clãs fechados em grandes escritórios e assaltaram todas as instituições publicas. Qual enxame de vespas, planificavam as leis a aprovar e impunham a sua vontade na assembleia da Républica e nos ministérios que tomaram de assalto.

Temos, então, leis que não defendem o país da injustiça mas os interesses dos poderosos ( patrões da comunicação social, grandes empresas, grandes bancos, interesses estrangeiros …).

Possuímos até uma constituição interessante! Agora repare compadre, a sua interpretação é corrompida a todo o momento ao ponto de termos sumidades que a “decifram” à sua maneira e outros exatamente o contrário ( a maioria das vezes em conluio). Esqueçamos a palhaçada do antigo tribunal constitucional dirigido por dois ou três académicos gurus mortinhos por aparecer na televisão.

O problema, com esta gente de direito, que se vem agravando com as borlas das universidades privadas, está situado na péssima formação das faculdades de direito, pior , ainda, que no tempo da ditadura. Falta a filosofia ética, o latim, a hermenêutica jurídica, a honra, a dignidade, e a inteligência. Tomaram conta do estado de direito, construíram-no à sua maneira, apodreceram-no, tornando a justiça cara e apenas acessível a quem tem muito dinheiro.




Como dizia há dois mil anos o Compadre Cícero sobre estes “catilinas” : “Quo usque tandem abutere, Catilina, patientia nostra?(…)
Nihilne te nocturnum praesidium Palati, nihil urbis vigiliae, nihil timor populi, nihil concursus bonorum omnium, nihil hic munitissimus habendi senatus locus, nihil horum ora voltusque moverunt?( “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência?” (…) “Nem a guarda do Palatino, nem a ronda noturna da cidade, nem os temores do povo, nem a afluência de todos os homens de bem, nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado, nem o olhar e o aspecto destes senadores, nada disto conseguiu perturbar-te?”



Sobre os economistas fiquemos calados por agora.


quinta-feira, 6 de julho de 2023

Jornalismo, pasquins e audiências

 

Encontrei o compadre Zé, no café do Ti Chico a ler o jornal Tal e Qual:

-Boas tardes compadre, então a ler o jornalito?

- Temos que ajudar esta gente compadre! E ler em papel, assim as notícias têm outra consistência.

- Não estou a perceber! O compadre anda sempre a dizer que o jornalismo está uma bosta, que não há independência e isenção, que em vez de informar, desinforma…

- E então não é verdade compadre? Repare por exemplo na imprensa televisiva. Pertencem a grupos económicos fortíssimos, alguns para lavarem dinheiro, outros para favorecerem o partido do patrão e outros para tornarem o povo mais ignorante! Até a televisão do estado canta ao som do toque do partido no poder. Temos três tipos de putativos jornalistas.  As vedetas, que apresentam o telejornal ou fazem entrevistas, com vozes esganiçadas - julgam-se os inquisidores do país.  Depois temos os repórteres! Compadre ali o meu Fidalgo a zurrar mostrava maior erudição! E como funcionam os hircos? Apelam às emoções mais banais, para não fazer pensar o ouvinte. Dão erros de palmatória, metem medo, apelam às lágrimas de crocodilo, ensinam como se deve matar ou pegar fogo… Sobre os terceiros nem falo, porque nem jornalistas são.  Limitam-se a lamber as botas dos políticos à espera de ir para um governo qualquer.

- Ensinam a matar? Não se está a estender compadre?!

- Compadre nos últimos tempos a violência contra as mulheres aumentou. Foi uma semana em que só falaram de facas. Discutiram unicamente a atrocidade gratuita e porque não conhecem a psicologia de massas, ensinaram aos criminosos que uma faca poderia resolver a situação. Quantas mulheres foram violentadas com esse instrumento logo a seguir?

- Mas existe um regulador para a comunicação social…

- Um regulador? Para regular a sua carteira. Qual é o jornal em formato papel que mais vende? Um pasquim abjeto, que promove o crime, o medo, os maus políticos, o conflito, a faca e o alguidar…  E até tem uma tv… espante-se! É o exemplo da imposição da irracionalidade e da estupidez! É a anti escola , a anulação de qualquer laço cultural…

-  É verdade que o jornalismo atual deixa muito a desejar. Mas existem bons programas com muitos convidados, comentadores?

- Comentadores?!  Um médico famoso chamou-lhes “paineleiros”.  Políticos ridículos, generais e coronéis frustrados, histéricos do futebol… O problema é que as suas opiniões tiram às pessoas a capacidade de pensar pela sua própria cabeça, de ter um espírito crítico. São os “sábios” dos interesses que não querem que o povo pense! Vale tudo para atrair audiências, até a iniquidade comunicativa. Já pensou naqueles programas que atentam contra os direitos humanos? Gente fechada numa casa a ser provocada por uma voz à espera da baixa discórdia, do confronto banal, da agressão a todos os valores éticos, sociais e morais? Depois os pategos são convidados a pagar o programa com chamadas de valor acrescentado, dando-lhes a sensação que alguém tem de ser castigado!

Queixam-se algumas organizações de que o povo anda a gastar muito em raspadinhas! Já alguma vez pensaram no roubo que as estações de tv fazem aos velhos, aos pobres, aos simples, com a provocação continua às chamadas de valor acrescentado? Para quê? Para pagar programas ridículos, promover a pimbaria, a estupidez ?...  Olhe,  aprendam com o Compadre Fernando Mendes como se pode entreter e dar felicidade ao povo simples que quer alegria.

Não há jornalismo nem jornalistas em Portugal.

- Pode crer compadre, pode crer.

- E não se vá embora sem a última. O presidente da República, coitadinho, teve uma maleita e foram todos os repórteres para a porta do hospital!

Não há direito, porra, o homem teve que esperar até à hora de maior audiência para sair.

quarta-feira, 28 de junho de 2023

"De exitio aspera" - Uma fábula do compadre Zé - (epílogo)

 

Três voltas deu o burro ao palratório e depois de zurrar três vezes, “Tres resonantes pedit in auras” (lançou para o ar três ressonantes peidos). Uma abelha enorme poisou-lhe na cabeça e iniciou uma dança que apenas os animais conheciam. E como na natureza não existem regimes, fácil se torna descodificar a comunicação: - Quando a terra era habitada pelos espetos, chamaram-me rainha. Nem a doçura que lhe ensinamos, quando por eles éramos escravizadas, lhes abriu as portas da natureza. Eu sou a Mãe de uma enorme família que faz parte de tantas famílias abraçadas pela natureza. Vamos voltar para as flores, encher o vento de pólen e os dias e as noites sem a prisão do tempo.

O lobo ergueu-se nas quatro patas, uivou e fechou a assembleia: - Voltemos para os nossos cantos. Às vezes uns ventos maus toldam-nos a ligação à terra.

Saltou do palratório e todos partiram.

Todos? Não, ficaram os porcos.

terça-feira, 27 de junho de 2023

"De exitio aspera" - Uma fábula do compadre Zé - (continuação)

 

Frente ao parlatório Rochoso o Burro baixou a cabeça, sacudiu com quatro pinotes os Chatos que teimavam em abrigar-se na macieza dos seus renhões e assim zurrou: “ -Já contavam os avós dos meus avós que há mais de mil invernos habitavam esta terra uns seres estranhos que para se afastarem da natureza caminhavam sobre as patas anteriores, feitos espetos. Organizaram-se em aldeias, depois em cidades, e quanto mais se organizavam, mais se separavam uns dos outros! A tal ponto chegaram que fizeram da semelhança distinção! Nunca se entenderam, nem mesmo quando diziam que tinham um cérebro maior que os outros animais. Serviu esse desenvolvimento para subjugarem o mais fraco, para inventar a morte pela guerra quando descobriram que o poder das armas podia dominar mais semelhantes. E nunca tão poucos dominaram tantos! Escravizaram e inventaram o PODER! Afastaram-se da natureza, a Nossa Mãe original e inventaram a religião. E esta só serviu para transformar aos humanoides nos seres mais abjetos do planeta! Ajudou a separá-los ainda mais em nome de “seres seráficos e bondosos” que mais não eram que excrementos filosóficos e teológicos de um cérebro involutivo a que chamaram civilização! Divididos em dominadores e dominados, fecharam-se e criaram fronteiras sentindo-se ainda mais diferentes entre si. Resolviam os seus problemas matando-se uns aos outros. À  banalização da morte justificada pela força, chamaram-lhe guerra. Inventaram o dinheiro e criaram então a pobreza!

 Poder e religião fizeram uma hipócrita aliança – outra forma de poucos dominarem a maioria. Levantou-se, então, a palavra liberdade e à maioria da população crismaram-na de povo. Monarquia, república, tirania, ditadura e finalmente democracia. Esqueceram-se que todos nascem livres na natureza que os cerca.

 A política tornou-se numa arte do engano. Quanto mais avançavam no tempo mais perto ficavam da extinção! Umas centenas de palhaços nascidos de sangue privilegiado, eleitos, representantes de divindades inventadas, de profetas, justificaram a escravidão, a destruição, a desigualdade… E surgiu a História para justificar a permanência! Ignoravam que na natureza a verdadeira história é a dos enterramentos ou, mais tardiamente dos cemitérios. Tinham uma relação esquizofrénica coma memória – pintaram, escreveram, filmaram, gravaram , guardaram em formatos digitais… E quanto mais investiam no conhecimento, mais se afastavam da realidade - chegaram ao ponto de substituírem o cérebro por um ecrã de computador ou telemóvel. 

O artificial substituiu o natural! Destruíram a maioria dos seres que habitavam a terra e o mar! Acabaram por conspurcar o meio ambiente em que viviam esquecendo-se que a natureza é mais forte! O sol passou a queimar mais, os rios secaram, as plantas recusaram-se a crescer, as tempestades tomaram conta de montes, vales, desertos, e derreteram os apoios do planeta. Naturalmente os humanos extinguiram-se!

(continua)

segunda-feira, 26 de junho de 2023

"De exitio aspera" - Uma fábula do compadre Zé

Farta de monarquia a fauna Lusa decidiu desencadear uma revolução. O velho Lobo, chefe da alcateia, reuniu-se com o verboso Corvo e a sábia Coruja. Enquanto a lua abria uma janela na escuridão os três discutiam, pensavam, uivavam, piavam, parlavam sobre a melhor forma de reunir todos os animais numa clareira da praia. Decidiram, então, enviar as Gralhas aos quatro cantos da Lusitana Terra convocando os representantes, sem distinção de género, de todas as espécies. Mas onde? E quando? Decidiram pelo rio Tejo nas fraldas de Lisboa pela centralidade e, no Inverno, pela coerência meteorológica das espécies.

Os primeiros a chegar foram os peixes. E a confusão começou! Os de água doce exigiam o plenário durante a maré baixa, os do mar na maré cheia! Para complicar as coisas um Golfinho tentou petiscar um Barbo! Surgiu, então, a primeira norma constitucional: “Sempre que se imponha a necessidade de uma assembleia geral de todas as espécies, ficam proibidos todos os atos de predação, violência, cio ou produção de venenos e toxinas”.

Aos poucos foram, então, chegando, os animais: As desconfiadas raposas esperavam numa vereda sobranceira enquanto os galináceos cacarejavam como se chegassem a uma festa. Entretanto os Coelhos esperavam que Ginetes, Furões, Doninhas, Texugos e Ratazanas, ocupassem o seu espaço na Assembleia. Já organizados em partidos chegaram os Suínos. Os Bísaros acenavam, pendurados nos rabos, a bandeira do Partido Sem Dono; Os Javalis, hasteavam nas presas o cartão do Partido  Sorrelfa e numa mistura de raças suínas , seguiam-se o Partido do Cagão  Português, da Bosta Especial, do Chiqueiro Democrático Suíno, da Importância Laroca, do Penico de Ação Nacional… e outras caganças partidárias que não perco tempo em nomear. 

          Uma brisa suave varria a assembleia já sentada, enquanto os Escaravelhos, Abutres e algumas aves esfomeadas mantinham a higiene do espaço. Subitamente ouviu-se o piar do Mocho e um silêncio aterrador calou os sussurros da Assembleia. Uma pedra enorme servia de parlatório. Altivamente o Pavão alargou os seus paramentos e abençoou a Assembleia: “Que todas as forças da natureza iluminem este consílio”. Deu quatro voltas, e caiu redondo no chão. Entre risos abafados o mestre Lobo subiu a enorme rocha. Sentou-se sobre os quartos traseiros e olhou em redondo, para toda a assembleia. E assim falou: - “Seres desta Lusa terra, habitantes do ar, do bosque, das cavernas profundas, da água, das rochas, das árvores, da charneca, das praias e dos leitos secos, dos lugares lúgubres, dos buracos e do fogo, das florestas esquecidas… Ouvi o Sábio Burro, o guardião do saber antigo.”

(Continua)


sexta-feira, 23 de junho de 2023

Metendo conversa...




    No espaço dos países do sul da Europa (de influência mediterrânica) a origem do culto remonta às religiões primitivas e, dizem os críticos, constitui metamorfose de outros cultos originários. Assim, a origem do culto do feminino segura as suas raízes populares entre olivares e vinhedos e evoca: Isis, Atenea, Cibeles, Astarté... Sincretismos da Grande Mãe. 
    A deusa, a Mãe, preenche o imaginário dos homens, na forma idealizada da mulher! É a Senhora, nunca a “virgem”, adorada entre antas e menires, a guiar riachos e a proteger caminhos milenares.
    O seu rosto sofreu a deformação da História, porque a política e a religião constroem-se sobre a mesma matriz – da hierarquia e do poder. Assim, consoante os interesses em jogo, o culto a Isis sofreu matizes e acentuou traços: a dedicação, a claridade, o sacrifício abnegado pelo filho… Isis, a Luz do Mundo, a deusa dos mil nomes, encerra na sua simbologia uma severa contradição para a ideologia cristã. “Senhora dos Prazeres”(?!) , tantas outras, num absurdo que o cristianismo não conseguiu substituir..
    Ísis é uma deusa da luz, zelosa com todos, sejam escravos ou nobres, pecadores ou sagrados, governantes ou governados, homens ou mulheres. Ela olha por todos com o mesmo empenho protector, a mesma solicitude, exercitando assim a sua natureza radicalmente maternal e fértil.
    Lúcifer é o portador da luz, a estrela da manhã. A palavra Lúcifer vem do latim lux, que significa luz, e ferre, que é levar, transportar. É, portanto, o portador da luz, ou ainda a estrela da manhã ou filho d'alva desde antiguidade egípcia e clássica. A tradição cristã conhece o nome Lúcifer como o anjo caído que também é conhecido como Satanás. Esta concepção foi criada pelo putativo “São“Jerónimo ao traduzir de forma grosseira a Vulgata, a Bíblia em Latim, no século 4 d.C. – é o diabo.