quinta-feira, 6 de julho de 2023

Jornalismo, pasquins e audiências

 

Encontrei o compadre Zé, no café do Ti Chico a ler o jornal Tal e Qual:

-Boas tardes compadre, então a ler o jornalito?

- Temos que ajudar esta gente compadre! E ler em papel, assim as notícias têm outra consistência.

- Não estou a perceber! O compadre anda sempre a dizer que o jornalismo está uma bosta, que não há independência e isenção, que em vez de informar, desinforma…

- E então não é verdade compadre? Repare por exemplo na imprensa televisiva. Pertencem a grupos económicos fortíssimos, alguns para lavarem dinheiro, outros para favorecerem o partido do patrão e outros para tornarem o povo mais ignorante! Até a televisão do estado canta ao som do toque do partido no poder. Temos três tipos de putativos jornalistas.  As vedetas, que apresentam o telejornal ou fazem entrevistas, com vozes esganiçadas - julgam-se os inquisidores do país.  Depois temos os repórteres! Compadre ali o meu Fidalgo a zurrar mostrava maior erudição! E como funcionam os hircos? Apelam às emoções mais banais, para não fazer pensar o ouvinte. Dão erros de palmatória, metem medo, apelam às lágrimas de crocodilo, ensinam como se deve matar ou pegar fogo… Sobre os terceiros nem falo, porque nem jornalistas são.  Limitam-se a lamber as botas dos políticos à espera de ir para um governo qualquer.

- Ensinam a matar? Não se está a estender compadre?!

- Compadre nos últimos tempos a violência contra as mulheres aumentou. Foi uma semana em que só falaram de facas. Discutiram unicamente a atrocidade gratuita e porque não conhecem a psicologia de massas, ensinaram aos criminosos que uma faca poderia resolver a situação. Quantas mulheres foram violentadas com esse instrumento logo a seguir?

- Mas existe um regulador para a comunicação social…

- Um regulador? Para regular a sua carteira. Qual é o jornal em formato papel que mais vende? Um pasquim abjeto, que promove o crime, o medo, os maus políticos, o conflito, a faca e o alguidar…  E até tem uma tv… espante-se! É o exemplo da imposição da irracionalidade e da estupidez! É a anti escola , a anulação de qualquer laço cultural…

-  É verdade que o jornalismo atual deixa muito a desejar. Mas existem bons programas com muitos convidados, comentadores?

- Comentadores?!  Um médico famoso chamou-lhes “paineleiros”.  Políticos ridículos, generais e coronéis frustrados, histéricos do futebol… O problema é que as suas opiniões tiram às pessoas a capacidade de pensar pela sua própria cabeça, de ter um espírito crítico. São os “sábios” dos interesses que não querem que o povo pense! Vale tudo para atrair audiências, até a iniquidade comunicativa. Já pensou naqueles programas que atentam contra os direitos humanos? Gente fechada numa casa a ser provocada por uma voz à espera da baixa discórdia, do confronto banal, da agressão a todos os valores éticos, sociais e morais? Depois os pategos são convidados a pagar o programa com chamadas de valor acrescentado, dando-lhes a sensação que alguém tem de ser castigado!

Queixam-se algumas organizações de que o povo anda a gastar muito em raspadinhas! Já alguma vez pensaram no roubo que as estações de tv fazem aos velhos, aos pobres, aos simples, com a provocação continua às chamadas de valor acrescentado? Para quê? Para pagar programas ridículos, promover a pimbaria, a estupidez ?...  Olhe,  aprendam com o Compadre Fernando Mendes como se pode entreter e dar felicidade ao povo simples que quer alegria.

Não há jornalismo nem jornalistas em Portugal.

- Pode crer compadre, pode crer.

- E não se vá embora sem a última. O presidente da República, coitadinho, teve uma maleita e foram todos os repórteres para a porta do hospital!

Não há direito, porra, o homem teve que esperar até à hora de maior audiência para sair.