Encontrei o compadre Zé, no café
do Ti Chico a ler o jornal Tal e Qual:
-Boas tardes compadre, então a
ler o jornalito?
- Temos que ajudar esta gente
compadre! E ler em papel, assim as notícias têm outra consistência.
- Não estou a perceber! O
compadre anda sempre a dizer que o jornalismo está uma bosta, que não há
independência e isenção, que em vez de informar, desinforma…
- E então não é verdade compadre?
Repare por exemplo na imprensa televisiva. Pertencem a grupos económicos
fortíssimos, alguns para lavarem dinheiro, outros para favorecerem o partido do
patrão e outros para tornarem o povo mais ignorante! Até a televisão do estado
canta ao som do toque do partido no poder. Temos três tipos de putativos
jornalistas. As vedetas, que apresentam
o telejornal ou fazem entrevistas, com vozes esganiçadas - julgam-se os
inquisidores do país. Depois temos os
repórteres! Compadre ali o meu Fidalgo a zurrar mostrava maior erudição! E como
funcionam os hircos? Apelam às emoções mais banais, para não fazer pensar o
ouvinte. Dão erros de palmatória, metem medo, apelam às lágrimas de crocodilo,
ensinam como se deve matar ou pegar fogo… Sobre os terceiros nem falo, porque
nem jornalistas são. Limitam-se a lamber
as botas dos políticos à espera de ir para um governo qualquer.
- Ensinam a matar? Não se está a
estender compadre?!
- Compadre nos últimos tempos a
violência contra as mulheres aumentou. Foi uma semana em que só falaram de
facas. Discutiram unicamente a atrocidade gratuita e porque não conhecem a
psicologia de massas, ensinaram aos criminosos que uma faca poderia resolver a
situação. Quantas mulheres foram violentadas com esse instrumento logo a
seguir?
- Mas existe um regulador para a comunicação social…
- Um regulador? Para regular a sua carteira. Qual é o jornal
em formato papel que mais vende? Um pasquim abjeto, que promove o crime, o
medo, os maus políticos, o conflito, a faca e o alguidar… E até tem uma tv… espante-se! É o exemplo da
imposição da irracionalidade e da estupidez! É a anti escola , a anulação de
qualquer laço cultural…
- É verdade que o
jornalismo atual deixa muito a desejar. Mas existem bons programas com muitos
convidados, comentadores?
- Comentadores?! Um
médico famoso chamou-lhes “paineleiros”.
Políticos ridículos, generais e coronéis frustrados, histéricos do
futebol… O problema é que as suas opiniões tiram às pessoas a capacidade de
pensar pela sua própria cabeça, de ter um espírito crítico. São os “sábios” dos
interesses que não querem que o povo pense! Vale tudo para atrair audiências,
até a iniquidade comunicativa. Já pensou naqueles programas que atentam contra
os direitos humanos? Gente fechada numa casa a ser provocada por uma voz à
espera da baixa discórdia, do confronto banal, da agressão a todos os valores
éticos, sociais e morais? Depois os pategos são convidados a pagar o programa
com chamadas de valor acrescentado, dando-lhes a sensação que alguém tem de ser
castigado!
Queixam-se algumas organizações de que o povo anda a gastar
muito em raspadinhas! Já alguma vez pensaram no roubo que as estações de tv fazem
aos velhos, aos pobres, aos simples, com a provocação continua às chamadas de
valor acrescentado? Para quê? Para pagar programas ridículos, promover a
pimbaria, a estupidez ?... Olhe, aprendam com o Compadre Fernando Mendes como
se pode entreter e dar felicidade ao povo simples que quer alegria.
Não há jornalismo nem jornalistas em Portugal.
- Pode crer compadre, pode crer.
- E não se vá embora sem a última. O presidente da República,
coitadinho, teve uma maleita e foram todos os repórteres para a porta do
hospital!
Não há direito, porra, o homem teve que esperar até à hora
de maior audiência para sair.
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