A sociedade
necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e
eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, ministérios, etc. Eu
oiço-os falar e pasmo não haver um único líder que não seja pateta, um único discurso
que não seja um rol de lugares comuns.”
Compadre António Lobo Antunes
- Boas tardes Compadre Zé, então
o que me diz destas palavras do Compadre Lobo?
- Palavras lúcidas, compadre. Foram
estes medíocres que apodreceram a democracia a ponto de tornarem o governo de
Salazar numa gestão mais séria e ética.
- Parece impossível compadre que vossemecê
faça uma afirmação dessas?!
- Compadre já alguém pensou em
investigar os enriquecimentos dos políticos desde o 25 de Abril? Já alguém
fez um estudo sério sobre a monarquia existente dentro dos partidos,
nomeadamente daqueles que pertenceram ao rol da governação? O poder passa de
pais para filhos, netos, amigos, enteados, esposas e amantes, oportunistas das escolas
do partido, da minoria daqueles que se inscreveram no partido… Já imaginou o que
partilham socialistas e sociais democratas? Quem está no governo negoceia com o
outro os favores de uma caixa geral de depósitos, o cargo numa instituição pública,
a gestão de empresas… O perpetuar da corrupção!
- Compadre, mas a justiça está
atenta!
- Não me faça rir compadre! Em
Portugal a justiça tem os olhos bem abertos. Há uma justiça para pobres e outra
para ricos. Faz-se justiça para os casos mais evidentes e isto porque temos uma
excelente polícia Judiciária. A democracia está refém da ditadura dos
escritórios de advogados. Fazem as leis, são parlamentares, misturam os
interesses dos escritórios com o poder instituído! São uma espécie de mafia. E
quando se trata de defender os casos que esporadicamente surgem sobre a
corrupção dos políticos, muito raramente há condenações e se as há são brandas
e douradas, com muitas visitas dos camaradas de partido. E claro, os processos arrastam-se
com o tempo para não darem em nada. Para os outros restam os defensores
oficiosos, na maioria, ordenados em universidades privadas. Depois existe o anedótico “segredo de justiça”,
que de segredo não tem nada!
- Reconheço compadre que Portugal
não é um Estado de direito, mas um estado de escritórios de advogados… Uma
ordem de privilégios intocáveis que põem e dispõem dos recursos financeiros,
económicos, jurídicos e políticos.
- Mas voltemos atrás compadre.
Ainda se lembra dos políticos que venderam Portugal à Rússia e aos Estados
Unidos? Daqueles que desbarataram os biliões que vieram da CEE em betão e
alcatrão, passando de ministros diretamente para as gestões das grandes
empresas de construção? Do dinheiro
esbanjado nas pescas, em novas embarcações para no mês seguinte pagarem para as
pararem? No arranque criminoso (e muito bem pago) de oliveiras e vinhas
centenárias? Das jogadas do chamado capitalismo popular? Da primeira corrupção
ligada aos bancos? E aqueles ministros que saíram do governo e fundaram bancos?
Do negócio das armas e submarinos (lembram-se
da tomada de posição sobre estes da justiça Alemã)? Dos rebanhos de ovelhas que
circulavam pelas herdades? Da política criminosa que trouxe a “troika” e de
quem a geriu? Do atraso que esta trouxe ao ensino, à solidariedade social, à saúde?
Do incitamento ao ódio aos professores, aos velhos e aos jovens? Nunca a
juventude foi tão maltratada! Num ato terrorista foi-lhes dito que emigrassem! Dos
banqueiros poderosos que geriam os recursos do estado e controlavam as atitudes
dos governos? Dos donos da comunicação social privada que têm estupidificado
este país e manipulado aqueles que ainda votam? E que dizer daqueles atores que tiveram altos cargos na governação e que, hoje, aparecem a opinar sem qualquer ética e
moral? E que dizer das aberrações que temos hoje no parlamento? Uns fazem
lembrar a metáfora de um sem abrigo com um cão – levaram o cão para aconchego e
abandonaram o dono à sua sorte. Outros descontentes com o partido original fundaram
um novo partido, depois de serem comentadores de futebol e com a ajuda do maior
pasquim da comunicação social (porque o tacho já não chegava para todos). Ainda
filhos do mesmo partido, outros regressaram ao século dezanove e armam-se em
liberais atrasados no tempo. A extrema esquerda continua igual a si mesma. Meninos
ricos a promoverem o terrorismo social e o racismo. Os comunistas estalinistas
extintos em todas as democracias ocidentais estão a engrossar o novo partido
inconstitucional…
- Porra, compadre, e a crise
continua!
- E vai continuar, numa gritaria histérica,
com um presidente que não soube manter a dignidade institucional e a independência.
Resultado? Hoje só vota que tem interesses partidários ou perdeu o espírito
crítico.
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