quarta-feira, 29 de novembro de 2023

A bandalheira política – o apodrecimento do parlamento – a memória curta e a palhaçada das instituições de poder

 

A sociedade necessita de medíocres que não ponham em questão os princípios fundamentais e eles aí estão: dirigem os países, as grandes empresas, ministérios, etc. Eu oiço-os falar e pasmo não haver um único líder que não seja pateta, um único discurso que não seja um rol de lugares comuns.”

                                                                                                        Compadre António Lobo Antunes 

- Boas tardes Compadre Zé, então o que me diz destas palavras do Compadre Lobo?

- Palavras lúcidas, compadre. Foram estes medíocres que apodreceram a democracia a ponto de tornarem o governo de Salazar numa gestão mais séria e ética.

- Parece impossível compadre que vossemecê faça uma afirmação dessas?!

- Compadre já alguém pensou em investigar os enriquecimentos dos políticos desde o 25 de Abril? Já alguém fez um estudo sério sobre a monarquia existente dentro dos partidos, nomeadamente daqueles que pertenceram ao rol da governação? O poder passa de pais para filhos, netos, amigos, enteados, esposas e amantes, oportunistas das escolas do partido, da minoria daqueles que se inscreveram no partido… Já imaginou o que partilham socialistas e sociais democratas? Quem está no governo negoceia com o outro os favores de uma caixa geral de depósitos, o cargo numa instituição pública, a gestão de empresas… O perpetuar da corrupção!

- Compadre, mas a justiça está atenta!

- Não me faça rir compadre! Em Portugal a justiça tem os olhos bem abertos. Há uma justiça para pobres e outra para ricos. Faz-se justiça para os casos mais evidentes e isto porque temos uma excelente polícia Judiciária. A democracia está refém da ditadura dos escritórios de advogados. Fazem as leis, são parlamentares, misturam os interesses dos escritórios com o poder instituído! São uma espécie de mafia. E quando se trata de defender os casos que esporadicamente surgem sobre a corrupção dos políticos, muito raramente há condenações e se as há são brandas e douradas, com muitas visitas dos camaradas de partido. E claro, os processos arrastam-se com o tempo para não darem em nada. Para os outros restam os defensores oficiosos, na maioria, ordenados em universidades privadas.  Depois existe o anedótico “segredo de justiça”, que de segredo não tem nada!

- Reconheço compadre que Portugal não é um Estado de direito, mas um estado de escritórios de advogados… Uma ordem de privilégios intocáveis que põem e dispõem dos recursos financeiros, económicos, jurídicos e políticos.

- Mas voltemos atrás compadre. Ainda se lembra dos políticos que venderam Portugal à Rússia e aos Estados Unidos? Daqueles que desbarataram os biliões que vieram da CEE em betão e alcatrão, passando de ministros diretamente para as gestões das grandes empresas de construção?  Do dinheiro esbanjado nas pescas, em novas embarcações para no mês seguinte pagarem para as pararem? No arranque criminoso (e muito bem pago) de oliveiras e vinhas centenárias? Das jogadas do chamado capitalismo popular? Da primeira corrupção ligada aos bancos? E aqueles ministros que saíram do governo e fundaram bancos?  Do negócio das armas e submarinos (lembram-se da tomada de posição sobre estes da justiça Alemã)? Dos rebanhos de ovelhas que circulavam pelas herdades? Da política criminosa que trouxe a “troika” e de quem a geriu? Do atraso que esta trouxe ao ensino, à solidariedade social, à saúde? Do incitamento ao ódio aos professores, aos velhos e aos jovens? Nunca a juventude foi tão maltratada! Num ato terrorista foi-lhes dito que emigrassem! Dos banqueiros poderosos que geriam os recursos do estado e controlavam as atitudes dos governos? Dos donos da comunicação social privada que têm estupidificado este país e manipulado aqueles que ainda votam? E que dizer daqueles atores que tiveram altos cargos na governação e que, hoje, aparecem a opinar sem qualquer ética e moral? E que dizer das aberrações que temos hoje no parlamento? Uns fazem lembrar a metáfora de um sem abrigo com um cão – levaram o cão para aconchego e abandonaram o dono à sua sorte. Outros descontentes com o partido original fundaram um novo partido, depois de serem comentadores de futebol e com a ajuda do maior pasquim da comunicação social (porque o tacho já não chegava para todos). Ainda filhos do mesmo partido, outros regressaram ao século dezanove e armam-se em liberais atrasados no tempo. A extrema esquerda continua igual a si mesma. Meninos ricos a promoverem o terrorismo social e o racismo. Os comunistas estalinistas extintos em todas as democracias ocidentais estão a engrossar o novo partido inconstitucional…

- Porra, compadre, e a crise continua!

- E vai continuar, numa gritaria histérica, com um presidente que não soube manter a dignidade institucional e a independência. Resultado? Hoje só vota que tem interesses partidários ou perdeu o espírito crítico.

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