Frente
ao parlatório Rochoso o Burro baixou a cabeça, sacudiu com quatro pinotes os
Chatos que teimavam em abrigar-se na macieza dos seus renhões e assim zurrou: “
-Já contavam os avós dos meus avós que há mais de mil invernos habitavam esta
terra uns seres estranhos que para se afastarem da natureza caminhavam sobre as
patas anteriores, feitos espetos. Organizaram-se em aldeias, depois em cidades,
e quanto mais se organizavam, mais se separavam uns dos outros! A tal ponto
chegaram que fizeram da semelhança distinção! Nunca se entenderam, nem mesmo
quando diziam que tinham um cérebro maior que os outros animais. Serviu esse
desenvolvimento para subjugarem o mais fraco, para inventar a morte pela guerra
quando descobriram que o poder das armas podia dominar mais semelhantes. E
nunca tão poucos dominaram tantos! Escravizaram e inventaram o PODER!
Afastaram-se da natureza, a Nossa Mãe original e inventaram a religião. E esta
só serviu para transformar aos humanoides nos seres mais abjetos do planeta!
Ajudou a separá-los ainda mais em nome de “seres seráficos e bondosos” que mais
não eram que excrementos filosóficos e teológicos de um cérebro involutivo a
que chamaram civilização! Divididos em dominadores e dominados, fecharam-se e
criaram fronteiras sentindo-se ainda mais diferentes entre si. Resolviam os
seus problemas matando-se uns aos outros. À
banalização da morte justificada pela força, chamaram-lhe guerra.
Inventaram o dinheiro e criaram então a pobreza!
Poder e religião fizeram uma hipócrita aliança
– outra forma de poucos dominarem a maioria. Levantou-se, então, a palavra
liberdade e à maioria da população crismaram-na de povo. Monarquia, república,
tirania, ditadura e finalmente democracia. Esqueceram-se que todos nascem
livres na natureza que os cerca.
A política tornou-se numa arte do engano.
Quanto mais avançavam no tempo mais perto ficavam da extinção! Umas centenas de
palhaços nascidos de sangue privilegiado, eleitos, representantes de divindades
inventadas, de profetas, justificaram a escravidão, a destruição, a
desigualdade… E surgiu a História para justificar a permanência! Ignoravam que
na natureza a verdadeira história é a dos enterramentos ou, mais tardiamente
dos cemitérios. Tinham uma relação esquizofrénica coma memória – pintaram,
escreveram, filmaram, gravaram , guardaram em formatos digitais… E quanto mais
investiam no conhecimento, mais se afastavam da realidade - chegaram ao ponto
de substituírem o cérebro por um ecrã de computador ou telemóvel.
O
artificial substituiu o natural! Destruíram a maioria dos seres que habitavam a
terra e o mar! Acabaram por conspurcar o meio ambiente em que viviam
esquecendo-se que a natureza é mais forte! O sol passou a queimar mais, os rios
secaram, as plantas recusaram-se a crescer, as tempestades tomaram conta de
montes, vales, desertos, e derreteram os apoios do planeta. Naturalmente os
humanos extinguiram-se!
(continua)
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