Coisas de deus e do diabo.
- Compadre Zé, hoje vamos falar das seitas políticas e religiosas que estão a invadir todo o mundo. Que me diz daquela seita que se instalou em Oliveira do hospital?
- É mais do mesmo compadre. Esses, nome de putativas filosofias baratas, vão-se aproveitando das liberdades religiosas e ideológicas para se fecharem dentro de quatro muros e viverem à margem da lei do país. Até querem fundar um reino! Um reino dentro de uma República!? Está tudo esfrangalhado. E eu até ouvi um político a afirmar que é um direito constitucional!
- Compadre a liberdade de religião é uma das normas constitucionais mais importantes da nossa democracia.
- Estamos de acordo compadre. Mas diga-me lá, se um grupo extremista religioso decidisse, criar um estado dentro do nosso estado isso seria constitucional?
-Compadre, vossemecê está a confundir as coisas.
- Estou compadre?! Que me diz das inúmeras seitas que fazem terrorismo social, político e económico? Que compram edifícios, herdades, políticos, televisões, jornais? Que vivem da ignorância dos simples e dos miseráveis? Que apoiam e provocam guerras? Que abençoam os lóbis das armas? Que não têm nem teologia nem essência? Que pervertem, modificam e acrescentam os cânones sagrados da memória escrita de muitos povos?
- Estou de acordo compadre. Regem-se apenas por interesses políticos e económicos. Mas a religião é importante para regular a sociedade…
- Mais uma vez estamos de acordo, Compadre! O problema é que ao longo dos séculos, quase sempre, serviu para demonstrar o pior que a humanidade possui. E isto tem-se vindo a gravar com estas seitas !
Quem tinha razão era o meu tio avô Ti Zé da Azenha. Antigamente, quando a água ainda corria nas ribeiras, existiam uns portos para atravessar a pé. Colocavam umas pedras grandes entre as duas margens para resolver a passagem aquando das cheias. Num desses dias a ribeira corria forte e alta! As pedras mal se viam. Ti Zé depois de saltar para a primeira pedra e perante a corrente que se fazia sentir, parou. Olhou para baixo, depois para cima, de forma autocéfala benzeu-se e orou: - Que deus me ajude - e, como era um homem avisado, quando ia saltar refletiu mais um pouco – e o diabo também. Saltou então. Sempre que caia na pedra seguinte repetia a fórmula: - Que deus me ajude, e o diabo também. Depois de saltar sete pedras, já perto da margem, escorregou e estardalhou-se na água gelada! Levantou-se serenamente, sacudiu o chapéu molhado, e com toda a sabedoria alentejana, vociferou:
- Tão cabrão é um como outro.
Estranhos andam os tempos, meu querido compadre!
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