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segunda-feira, 26 de junho de 2023

"De exitio aspera" - Uma fábula do compadre Zé

Farta de monarquia a fauna Lusa decidiu desencadear uma revolução. O velho Lobo, chefe da alcateia, reuniu-se com o verboso Corvo e a sábia Coruja. Enquanto a lua abria uma janela na escuridão os três discutiam, pensavam, uivavam, piavam, parlavam sobre a melhor forma de reunir todos os animais numa clareira da praia. Decidiram, então, enviar as Gralhas aos quatro cantos da Lusitana Terra convocando os representantes, sem distinção de género, de todas as espécies. Mas onde? E quando? Decidiram pelo rio Tejo nas fraldas de Lisboa pela centralidade e, no Inverno, pela coerência meteorológica das espécies.

Os primeiros a chegar foram os peixes. E a confusão começou! Os de água doce exigiam o plenário durante a maré baixa, os do mar na maré cheia! Para complicar as coisas um Golfinho tentou petiscar um Barbo! Surgiu, então, a primeira norma constitucional: “Sempre que se imponha a necessidade de uma assembleia geral de todas as espécies, ficam proibidos todos os atos de predação, violência, cio ou produção de venenos e toxinas”.

Aos poucos foram, então, chegando, os animais: As desconfiadas raposas esperavam numa vereda sobranceira enquanto os galináceos cacarejavam como se chegassem a uma festa. Entretanto os Coelhos esperavam que Ginetes, Furões, Doninhas, Texugos e Ratazanas, ocupassem o seu espaço na Assembleia. Já organizados em partidos chegaram os Suínos. Os Bísaros acenavam, pendurados nos rabos, a bandeira do Partido Sem Dono; Os Javalis, hasteavam nas presas o cartão do Partido  Sorrelfa e numa mistura de raças suínas , seguiam-se o Partido do Cagão  Português, da Bosta Especial, do Chiqueiro Democrático Suíno, da Importância Laroca, do Penico de Ação Nacional… e outras caganças partidárias que não perco tempo em nomear. 

          Uma brisa suave varria a assembleia já sentada, enquanto os Escaravelhos, Abutres e algumas aves esfomeadas mantinham a higiene do espaço. Subitamente ouviu-se o piar do Mocho e um silêncio aterrador calou os sussurros da Assembleia. Uma pedra enorme servia de parlatório. Altivamente o Pavão alargou os seus paramentos e abençoou a Assembleia: “Que todas as forças da natureza iluminem este consílio”. Deu quatro voltas, e caiu redondo no chão. Entre risos abafados o mestre Lobo subiu a enorme rocha. Sentou-se sobre os quartos traseiros e olhou em redondo, para toda a assembleia. E assim falou: - “Seres desta Lusa terra, habitantes do ar, do bosque, das cavernas profundas, da água, das rochas, das árvores, da charneca, das praias e dos leitos secos, dos lugares lúgubres, dos buracos e do fogo, das florestas esquecidas… Ouvi o Sábio Burro, o guardião do saber antigo.”

(Continua)