Farta
de monarquia a fauna Lusa decidiu desencadear uma revolução. O velho Lobo,
chefe da alcateia, reuniu-se com o verboso Corvo e a sábia Coruja. Enquanto a
lua abria uma janela na escuridão os três discutiam, pensavam, uivavam, piavam,
parlavam sobre a melhor forma de reunir todos os animais numa clareira da
praia. Decidiram, então, enviar as Gralhas aos quatro cantos da Lusitana Terra
convocando os representantes, sem distinção de género, de todas as espécies.
Mas onde? E quando? Decidiram pelo rio Tejo nas fraldas de Lisboa pela
centralidade e, no Inverno, pela coerência meteorológica das espécies.
Os
primeiros a chegar foram os peixes. E a confusão começou! Os de água doce
exigiam o plenário durante a maré baixa, os do mar na maré cheia! Para
complicar as coisas um Golfinho tentou petiscar um Barbo! Surgiu, então, a
primeira norma constitucional: “Sempre que se imponha a necessidade de uma
assembleia geral de todas as espécies, ficam proibidos todos os atos de
predação, violência, cio ou produção de venenos e toxinas”.
Aos
poucos foram, então, chegando, os animais: As desconfiadas raposas esperavam
numa vereda sobranceira enquanto os galináceos cacarejavam como se chegassem a
uma festa. Entretanto os Coelhos esperavam que Ginetes, Furões, Doninhas,
Texugos e Ratazanas, ocupassem o seu espaço na Assembleia. Já organizados em
partidos chegaram os Suínos. Os Bísaros acenavam, pendurados nos rabos, a
bandeira do Partido Sem Dono; Os Javalis, hasteavam nas presas o cartão do
Partido Sorrelfa e numa mistura de raças
suínas , seguiam-se o Partido do Cagão
Português, da Bosta Especial, do Chiqueiro Democrático Suíno, da
Importância Laroca, do Penico de Ação Nacional… e outras caganças partidárias
que não perco tempo em nomear.
Uma
brisa suave varria a assembleia já sentada, enquanto os Escaravelhos, Abutres e
algumas aves esfomeadas mantinham a higiene do espaço. Subitamente ouviu-se o
piar do Mocho e um silêncio aterrador calou os sussurros da Assembleia. Uma
pedra enorme servia de parlatório. Altivamente o Pavão alargou os seus
paramentos e abençoou a Assembleia: “Que todas as forças da natureza iluminem
este consílio”. Deu quatro voltas, e caiu redondo no chão. Entre risos abafados
o mestre Lobo subiu a enorme rocha. Sentou-se sobre os quartos traseiros e
olhou em redondo, para toda a assembleia. E assim falou: - “Seres desta Lusa
terra, habitantes do ar, do bosque, das cavernas profundas, da água, das
rochas, das árvores, da charneca, das praias e dos leitos secos, dos lugares
lúgubres, dos buracos e do fogo, das florestas esquecidas… Ouvi o Sábio Burro,
o guardião do saber antigo.”
(Continua)
Vim lá do blog da Ana Tapadas pra conhecer teu blog e trabalho! Gostei muito do que li! abraços, sucesso com o blog, chica
ResponderEliminarMuito obrigado pela paciência e pelo tempo gasto na leitura destas futilidades escritas. Foi uma sugestão catártica da minha Companheira da vida! Já me arrependi várias vezes de o ter feito.
ResponderEliminarComo se diz aqui pelo Alentejo " Nã tem talho nem maravalho"
Muita saúde
J. aves